Histórias que dariam um livro



Robertinho Baleiro     


Vi na televisão uma reportagem sobre esse homem, que com muita luta e criatividade transformou sua própria história. Me emocionei ao ver que os alunos fazem questão de convidá-lo para as formaturas e que ele já recebeu várias homenagens. Pesquisando, encontrei essas informações sobre sua história, mas vale à pena assisti-lo trabalhando... um grande exemplo!!!

Paula Freitas


Vendedor de lanches transforma-se numa figura essencial para a Universidade Federal da Bahia


Robertinho Baleiro viveu dez anos na rua. Quase não tem parentes. Com sua ingenuidade genial, ele transformou-se numa figura indissociável da UFBa, mais especificamente o Campus do Canela, que é cortado ao meio por uma movimentada avenida. Da venda de balas, ele expandiu o negócio para os salgados e agora dá informações sobre o horário dos ônibus e alerta para a criminalidade, usando um sistema de alto-falantes que os estudantes das faculdades de Educação e Administração já se acostumaram a ouvir e até a homenagear. Hoje em dia, o vendedor de lanches tornou-se um requisitado palestrante em empresas locais.


Natural de Serrinha (interior da Bahia, cerca de 300km de Salvador), Robertinho foi abandonado na rua com seis anos de idade e catou papelão para sobreviver até os 14 anos. Com 18 anos veio a Salvador e passou a vender balas nos ônibus, até que, um dia em 1994, parou no ponto em frente à Faculdade de Educação e começou a dar informações sobre trajetos e horários dos coletivos. Com o tempo, conquistou os freqüentadores do local com sua simpatia e eloqüência natural, encontrando o seu caminho e uma verdadeira família dentro da comunidade universitária.


O baleiro já foi até homenageado na reitoria da UFBA por mil pessoas, por seu trabalho de informação. Quando vê um movimento estranho, Robertinho alerta logo a dupla "Cosme e Damião" (de policias militares) que circula nas proximidades do campus. Na virada de 1999 para 2000, a Prefeitura tentou tirar Robertinho de sua barraca com o temido "rapa", a fiscalização municipal dos vendedores ambulantes. "Vieram vários carros do rapa e perguntaram se eu tinha recebido a notificação. Respondi que sim, já tinha recebido mais de 50 notificações, mas ia ser difícil me tirar dali. Eles começaram a levar minhas mercadorias, mas os professores e alunos se mobilizaram, fecharam a pista por mais de três horas. Aí me deixaram ficar", conta. Em sessão na Reitoria da UFBA, a comunidade votou o destino de Robertinho, e ele obteve vitória esmagadora - de mil pessoas, apenas vinte votaram contra ele. Robertinho então passou a ocupar a guarita do estacionamento e implementou seus serviços com um pequeno sistema de som, equipado com duas caixas colocadas estrategicamente e microfone.


Atualmente, aos 31 anos, Robertinho já encontrou moradia fixa, no Garcia, e chega todos os dias para trabalhar às 6 horas da manhã. Ele só abandona o posto às 10h50. No meio tempo, anuncia a chegada dos ônibus com muito bom humor. "Olha o Grande Circular I chegando. Atenção, vem chegando o Grande Circular - Barra, Pituba, Iguatemi e Rodoviária...". Também coloca músicas nos alto-falantes, "Djavan, Milton Nascimento, só musica brasileira de boa qualidade. Pagode não boto porque o pessoal da faculdade não gosta", explica. Também escuta o rádio e repassa informações sobre o trânsito, avisando sobre atrasos nos ônibus.


"Uso o microfone para passar informações e tenho banquinhos para os meus clientes, que também têm o direito de ler revistas e não se preocupam com o transporte, porque quando ele aparece eu aviso e eles correm para pegar", diz Robertinho, classificado por alguns estudantes como uma celebridade autêntica. "Quase não tive parente nenhum nesta vida. Os parentes que eu tive eram da rua, quando eu não tinha onde morar. Hoje os professores, alunos e funcionários é que são minha família. Quando recebo uma homenagem, até choro, quando eu vejo a Reitoria com mais de mil pessoas aplaudindo e gritando 'Robertinho!', sinto como se todos eles fossem da minha família".


Robertinho exibe um talento natural para a locução. Empolga a voz, faz piadas de bom gosto e torna a vida universitária um pouco mais viva, humanizando um espaço que, se não tivesse sido ocupado por ele, seria uma mera guarita de segurança, abandonada, burocrática. Sua fama na cidade cresceu tanto que ele já deu nove palestras em diversas empresas como Odebrecht, ou instituições como a Universidade Estadual da Bahia (UNEB). Já palestrou até ao lado do prefeito João Henrique (PDT), em um luxoso hotel do Corredor da Vitória. Semana que vem já tem uma palestra marcada. Ele diz que está pesquisando para inovar os conceitos e "não ficar repetitivo" quando fala sobre oportunidades, cidadania e justiça social.

Fonte:
http://www.overmundo.com.br/overblog/a-saga-de-robertinho-baleiro   
(Acesso em 17/06/2010)